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A Voz do Pastor › 20/12/2016

Natal: a Dramaticidade da Esperança

Estamos acostumados a dizer e a ouvir: “Natal é tempo de festa, de luz e de alegria”. Sim, é verdade, mas ao mesmo tempo precisamos nos debruçar sobre o fato de há mais de dois mil anos: o mistério da encarnação do Filho de Deus.
Para são Leão Magno, o mistério da natividade de Cristo é uma rica e profunda expressão, pela qual se apresenta o valor salvífico do evento. Os diversos fatos narrados pelos evangelhos são a parte visível do mistério do Natal, mas a sua essência é encontrada na união do humano com a divindade. O fim último deste mistério é salvar a humanidade. É, portanto, essencialmente mistério da salvação, mediante o qual é dada ao homem a graça da reconciliação. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Podemos dizer que o Natal é o início da Páscoa e a Páscoa é o complemento natural do Natal. Assim, devemos enxergar a dramaticidade que nele está presente: as dores e dificuldades dos acontecimentos que o antecedem e do Natal em si, à luz da paixão, morte e ressurreição. O Natal é, portanto, o ponto de partida do que mais tarde se realizaria: a nossa salvação na carne de Cristo.

Mas que dores e dificuldades estão presentes no natal de Jesus? Observemos atentamente as narrações feitas, tanto por Lucas como por Mateus, nos dois primeiros capítulos de seus evangelhos. A dificuldade de Zacarias e Isabel: “Ambos eram justos diante de Deus e, de modo irrepreensível, seguiam todos os mandamentos e estatutos do Senhor. Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada”. Existem algumas dificuldades que são naturais, são próprias do ser humano.

Pois bem, diante de suas limitações, você já foi tentado a deixar de acreditar na ação misericordiosa de Deus? A incredulidade de Zacarias diante do anúncio do Anjo do Senhor: “Zacarias perturbou-se e o temor apoderou-se dele… De que modo saberei disso? Pois sou velho e minha esposa é de idade avançada… Eis que ficarás mudo e sem poder falar… não creste em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno”. Deus constantemente está presente em nossa vida. Você, alguma vez deixou de acreditar nessa possibilidade? Você acredita em milagres, ou ainda tem uma fé titubeante?

A gravidez de Maria: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus”. Coloque-se na situação de uma mulher, há mais de dois mil anos, virgem e noiva, que ainda não coabitara com o seu noivo e está grávida. Você já pensou nas hipóteses de que ela poderia, cumulativamente, ter sido expulsa de casa pelos pais, renegada pelo noivo, apedrejada pelos guardiões da lei? O que você faria? Praticaria o aborto? Fugiria? Cairia em desgraça? Ou diria o “SIM”, como ela? A incompreensão momentânea de José: “José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo”. Às vezes vivemos como se “o problema não é nosso…”

Você já foi levado a evitar, desprezar ou abandonar alguém por medo da situação? A viagem à casa de Isabel e Zacarias: “Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá”. Você viajaria, a pé, mais de cento e vinte quilômetros para socorrer um parente em necessidade? Deixaria seus afazeres por três meses para fazer-lhe companhia e servi-lo com alegria? O nascimento de Jesus: “Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala”. Você já precisou ficar longe de casa? Contou com a solidariedade de outros? Sentiu necessidade de coisas essenciais?

Afetivamente sentiu-se sozinho? Pois bem, queridos irmãos e irmãs, celebrar o Natal é muito mais do que viver aquele romantismo pintado em telas e cartões, expresso em luzes e nas cores avermelhadas do “velho Papai Noel”. A essencialidade do Natal é abrir-se à novidade apresentada naquela manjedoura de Belém, acolhê-la e aceitá-la como a salvação em nossa vida. É suportar e superar, pela fé Naquele que veio e que vem, as dificuldades da vida.

Em verdade, Natal é a festa da esperança na dramaticidade da vida, pois pelo mistério do Natal a vida venceu a morte na cruz.

Pe. Ronaldo Francisco Aguarelli – Pároco

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