Praça da Catedral, s/nº - Centro - CEP: 13400-150 - Piracicaba-SP
(19) 3422-8489secretaria@catedraldepiracicaba.org.br“A outra face desconhecida de Antônio”
Antônio, o santo, nasceu por volta de 1190, em Lisboa, e foi batizado com o nome de Fernando. Faleceu na periferia de Pádua, em 13 de junho de 1231. Estudou com os cônegos regulares agostinianos e em Coimbra junto à igreja de Santa Cruz foi ordenado sacerdote. Dois anos mais tarde tornou-se Frade Menor, ocasião essa em que mudou o seu nome de batismo pelo qual se tornou conhecido. Passou os últimos onze anos de sua vida como filho espiritual de São Francisco.
O santo padroeiro é muito conhecido no mundo inteiro como: “o casamenteiro, o milagreiro e o achador de coisas perdidas”, não negamos tais atribuições, porém precisamos desvelar a “outra face desconhecida de Antônio”, ou seja, através dos seus preciosos sermões. Há dois grupos de Sermões, os Dominicais e os Festivos.
Os Sermões foram dedicados “Para a honra de Deus, pois, edificação tanto do leitor como do ouvinte, a partir da mesma compreensão da Sagrada Escritura, a fim de que nela, juntamente com Elias, a alma se eleve dos bens terrenos e, por meio de celeste viver, chegue ao céu”.
As características marcantes da espiritualidade antoniana podem ser apresentadas pela a devoção a Santíssima Trindade, em especial, a Jesus Cristo; a Nossa Senhora; aos santos e santas; aos sacramentos da penitência e da eucaristia; a observância dos Dez Mandamentos; a Igreja e finalmente as obras de misericórdia… Assim o bem-aventurado de Pádua escreveu: “Tua imagem é o outro homem a quem deves visitar com a esmola espiritual e a corporal porque a alma nutre-se com o pão espiritual e o corpo com o pão corporal”.
Assim, neste artigo serão ressaltados os “ditos de Antônio” sobre as obras de misericórdia. São dois grupos, primeiramente as obras espirituais: ensinar os ignorantes acerca de tudo que eles precisem, em particular, a respeito do conteúdo do evangelho de Jesus; corrigir os que erram, mediante as chamadas de atenção, mas, principalmente, por meio dos bons exemplos, opostos às más atitudes ou vícios referidos; dar bons conselhos aos que precisam e, muitas vezes, vêm ao nosso encontro em busca duma palavra de orientação. Não podem esses conselhos «atear lenha na fogueira» ou semear ódio entre as pessoas; consolar os angustiados, os desesperados por causa de problemas pessoais, ou familiares, tais como, uma doença prolongada ou o consumo de álcool, de drogas, uma gravidez inesperada etc., animá-los e dar-lhes força; perdoar de coração os que nos ofendem. Com efeito, Jesus ensina: «Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará». O perdão verdadeiro não é da boca para fora, brota do fundo do coração e está enraizado no mandamento do amor; suportar com paciência as adversidades e as fraquezas do próximo. Aceitar os outros ao nosso redor, tal como eles, efetivamente, são, isto é, com suas limitações, fraquezas, defeitos, bem como as vicissitudes da vida requerem exercitar sempre a paciência, a fim de não praguejarmos ou, até mesmo, blasfemar, nem tampouco, «darmos patadas» a torto e a direito; rogar a Deus, tanto pelos vivos quanto pelos falecidos, a saber, por quem não se conhece, pela conversão dos pecadores, pelo papa, pelos bispos, pelos sacerdotes, pelos religiosos e religiosas; pelos governantes do mundo todo e da própria nação, e também, pelos fiéis defuntos, a fim de que, purificados de seus pecados, venham a gozar da visão beatífica, da bem-aventurança eterna.
Entretanto, praticar sempre as espirituais ou materiais, igualmente ensina o Santo de Pádua, impõe-nos que, também, roguemos a Cristo nos conceda sua graça, pois, do contrário, pode-se assumir um comportamento como o tíbio, o inconstante na prática do bem: … roguemos ao Senhor Jesus que nos infunda a sua misericórdia, para que tenhamos misericórdia para conosco e para com os outros, não julguemos nem condenemos ninguém, perdoemos ao que peca contra nós e demos a todo o que pede o que somos e o que temos. Por sua vez, as sete consideradas numa dimensão corporal, são as seguintes: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede. Jesus teve comiseração das multidões famintas que o seguiam para receber o Pão da Palavra; vestir os nús. É também um preceito evangélico: “Quem tiver muita roupa partilhe com quem não tem, e faça o mesmo; dar abrigo aos peregrinos; assistir os enfermos e visitar os presos. São duas ações misericordiosas que convidam a ir ao encontro do próximo, através do voluntariado e que, certamente, o glorioso santo as terá feito cotidianamente; finalmente sepultar os mortos. As quatro primeiras deste conjunto tem a ver diretamente com os pobres, ou despossuídos ou necessitados e também caracterizaram a vida e, indubitavelmente, a espiritualidade de Santo Antônio, até porque, ele próprio declarou enfaticamente o seguinte: … “O falar é vivo quando as obras falam”. De palavras estamos cheios, mas vazios de obras, pelo que somos amaldiçoados por Deus, como Ele amaldiçoou a figueira quando ‘viu que não tinha fruto algum, senão folhas’.
Nessa perspectiva, tendo sempre diante dos olhos os mais necessitados, o Santo deixou uma regra para os cristãos de todos os tempos, respeitante à riqueza e aos bens materiais, que, certamente, se observada por todos, tornaria as relações socioeconômicas mais justas e o mundo melhor: … se o que tiver bens deste mundo, depois de guardado o necessário para ser alimento e vestido, vir o seu irmão, pelo qual Cristo morreu, padecer necessidade, deve dar-lhe o que restou. E se não der e fechar as suas entranhas ao seu irmão pobre, digo que peca mortalmente, por não existir nele a caridade de Deus.
Tomara que – neste tempo pandêmico – exortados pelo Santo de Lisboa, de Pádua e de Piracicaba saibamos exercer os seus ensinamentos evangélicos.
Mons. Ronaldo Francisco Aguarelli
Cura da Catedral de Piracicaba