Como os discípulos, ouvir o chamado de Jesus

Jesus, o Filho de Deus, poderia fazer tudo sozinho, mas não quis. Pelo contrário, quis necessitar de pessoas para ajudá-lo na construção do Reino de Deus. Neste artigo apresentarei o chamado que o Senhor fez aos seus primeiros discípulos… Porém, sua convocação ecoa por toda a terra. Dentre tantas vozes é preciso distinguir a voz do Bom Pastor.

Todos os evangelistas narram o chamamento dos discípulos.

“Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Avance para águas mais profundas e vós, lançai as redes para a pesca». Simão respondeu: «Mestre, trabalhamos durante toda a noite e nada apanhamos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes». Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. Ao ver isto, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador». Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão Pedro: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens». E, depois de terem reconduzido as barcas para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus”.

«Deixaram tudo e seguiram-no» Interessante, pesca abundante e chamamento andam de mãos dadas. O texto apresenta três momentos: introdução (vv. 1-3), pesca milagrosa (vv. 4-7) e chamamento de Pedro (vv. 8-11). «A ligação entre estes três momentos é constituída pela ‘palavra’ de Jesus. No começo, Ele anuncia a ‘palavra de Deus’ ao povo que se amontoa na margem; é por causa da palavra de Jesus que Pedro lança as redes ao largo, e é ainda por causa da sua palavra que ele deixa tudo e, com os companheiros, segue Jesus». Implicação do texto na nossa vida: Damos atenção à palavra de Jesus?
A multidão comprimia-se à volta de Jesus para escutar a palavra de Deus e Jesus senta-se no barco de Simão a ensinar. O mestre é Jesus, o pescador é Simão. Ao pescador lança Jesus um sugestivo convite vocacional: « Avance para águas mais profundas ». Ordena depois aos restantes pescadores que lancem as redes para a pesca. Os resultados são surpreendentes: se, na ausência de Jesus, nada pescaram, na sua presença,

«apanharam uma grande quantidade de peixe». Implicação do texto na nossa vida: Confiamos na palavra de Jesus que é viva e eficaz?
Pedro era simultaneamente um homem de fé: «porque Tu o dizes, lançarei as redes» porém, tem consciência que é um pecador. Então, «Jesus disse a Simão: ‘não tenhas receio; de agora adiante, serás pescador de homens’. Consciência do pecado, espanto e receio é uma tríade de sentimentos que inevitavelmente invade quem é chamado e exprime a consciência das limitações humanas face à grandeza e às exigências da missão confiada. Implicação do texto na nossa vida: Quais são os medos e justificativas que apresentamos diante do chamado de Jesus?

«Depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram-no». Logo depois, Simão e André deixaram as redes e que Tiago e João deixaram «o barco e o pai». Assim, o chamado do Mestre exige de cada pessoa a ruptura de todos os tipos de laços… Se estes são amarras que prendem, o chamamento é convite que liberta e o seguimento a concretização da libertação operada. Implicação do texto na nossa vida:

Quais os “laços” que nos aprisionam quando ouvidos os apelos do Senhor?

Quando se esperava que eles reclamassem a presença de Jesus para que a pesca continuasse a ser abundante, e até se poderia pensar que, agora mais que nunca, estariam agarrados ao lago e aos barcos finalmente rentáveis, eles deixaram tudo e seguiram Jesus. A vocação assume assim contornos inesperados e desconcertantes: Pedro, Tiago e João abandonam a lógica humana, que já pertencia ao passado, e deixam-se cegar pela promessa divina: «de futuro, serás pescador de homens». Implicação do texto na nossa vida: Como os primeiros discípulos podemos dizer, vale a pena ouvir a voz de Deus?

Por isso, dar atenção a palavra de Deus para responder com generosidade a Jesus, o Vocacionado do Pai.

Mons. Ronaldo Francisco Aguarelli – Cura da Catedral