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A Voz do Pastor › 08/03/2019

Recorda-te que foste escravo na terra do Egito¹

Caríssimos irmãos e irmãs:

Recordaremos o que Deus tem feito à humanidade desde o início da criação. No sexto dia Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”[²]. Então modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem tornou-se um ser vivente”[³], isto é, repleto de sabedoria, inteligência e amor, apto para conquistar a própria liberdade. Porém, depois de cometerem o pecado, o homem e sua esposa esconderam-se da presença de Deus e a seguir receberam a sentença divina; foram banidos do Éden.

Sabemos que o pecado está presente na história dos homens: seria inútil tentar ignorá-lo ou dar, a esta realidade obscura, outros nomes. São Paulo afirma que “o salário do pecado é a morte”[4]. Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é consequência do pecado. “Por meio de um só homem, o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”[5].  Porém, há sempre uma esperança que ao mesmo tempo é uma promessa, como afirma aquele Apóstolo: a morte será “o último inimigo do homem a ser vencido”[6]. “Como imperou o pecado na morte, assim também imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor”[7].

Com sua Morte e Ressurreição, Jesus nos libertou do pecado e, por sua graça, podemos agora viver uma nova vida. É o que são Paulo nos ensina: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão”[8]. Sim, foi para a liberdade que Cristo nos libertou, mas afinal o que são Paulo quis nos transmitir? Primeiramente, quis ensinar que o Evangelho é um preceito divino a favor da vida, à qual pertencemos por meio da fé em Cristo. Em Jesus recebemos uma liberdade extraordinária, apenas encontrada num relacionamento novo e íntimo com Deus. Por isso, a liberdade cristã não é estar livre para dar ocasião ao pecado, mas antes para servir aos outros por amor. Argumenta que toda lei se resume num só mandamento: “Ame seu próximo com a si mesmo”[9].


[1] Dt 24,22
[2] Gn 1,26
[3] Gn 2,7
[4] Rm 6,23
[5] Rm 5,12
[6] 1Cor 15,26
[7] Rm 5,21
[8] Gl 5,1
[9] Rm 13,8-10


Assim, como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da Igreja, que é o seu Corpo Místico, a sua continuação na história, é também libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso, a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor.

Com esses pensamentos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil apresenta e propõe à Igreja e às pessoas de boa vontade, não só no tempo da Quaresma, o tema da Campanha da Fraternidade de 2019: Fraternidade e Políticas Públicas e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça”.

 Papa Francisco, na encíclica Laudato si, adverte sobre essa realidade. “Muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, devido à corrupção e à falta de boas políticas públicas”. O problema é que, quando deixamos de acreditar, perdemos também a capacidade de tomar iniciativas e de manifestar interesse em mudanças, e a ganância e ambição dos que deveriam garantir os diretos e o bem comum da população ganham cada vez mais oportunidades e protagonizam um cenário cada vez mais desolador.

Nesse panorama brasileiro, destaca-se essa carência de políticas públicas efetivas para contemplar as graves questões sociais do país, como o desemprego, desigualdade social, saúde, moradia, educação, violência e exclusão social.

Assim, quando se fala de política, se fala de participação das pessoas no processo de gestão e controle social. “Todos os cristãos têm a missão e são chamados a participar do processo das políticas públicas. A atual situação do país exige então, o correto discernimento e responsabilidade dos cidadãos, e também das instituições e organizações responsáveis pela justiça e construção do bem comum.

Portanto, podemos ser indiferentes diante dos apelos de Deus, da Bíblia e da Igreja?  Certos de que Deus, o autor da vida, nos acompanhará nesta caminhada tenhamos uma santa quaresma e uma frutífera campanha da fraternidade.

Mons. Ronaldo Francisco Aguarelli

Cura da Catedral de Piracicaba

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